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  — O cassaco de engenho

  quando é um velho:

  — Somente por acaso

  ele alcança esse teto.

  — O cassaco de engenho

  velho nem é acaso:

  — É que um cassaco novo

  apressou-se no prazo.

  — O cassaco de engenho

  quando é um velho:

  — Então, chegado aí,

  se apressa em esqueleto.

  — Se apressa a descarnar

  como taipa em ruína:

  — E como ele é de taipa

  seu esqueleto é faxina.

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  — O cassaco de engenho

  de longe é como gente:

  — De perto é que se vê

  o que há de diferente.

  — O cassaco de engenho,

  de perto, ao olho esperto:

  — Em tudo é como homem,

  só que de menos preço.

  — Não há nada de homem

  que não tenha, em detalhe,

  e tudo por inteiro,

  nada pela metade.

  — É igual, mas apesar,

  parece recortado

  com a tesoura cega

  de alfaiate barato.

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  — O cassaco de engenho

  de longe é de osso e carne:

  — De perto é que se vê

  que de outra qualidade.

  — O cassaco de engenho

  se se chega a tocá-lo:

  — É outra a consistência

  de seu corpo, é mais ralo.

  — Tem a textura bruta

  e ao mesmo tempo frouxa,

  menos que algodãozinho,

  sim própria das estopas.

  — E dos panos puídos

  chegados ao estado

  em que, no português,

  pano passa a ser trapo.

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  —O cassaco de engenho

  de longe é o mesmo barro:

  — De perto é que se vê

  que o dele foi mais baço.

  — O cassaco de engenho

  é opaco e mortiço:

  — Nunca aprende com os aços

  de uma usina, seu brilho.

  — Nem com o brilho mais cego

  do cobre que ele vê

  nas tachas em que mexe

  nos engenhos bangüê.

  — Sequer aprende o brilho

  do cabo das enxadas

  que ele enverniza em seco

  com a lixa da mão áspera.

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  — O cassaco de engenho

  de longe é branco ou negro:

  — De perto é que se vê

  que é amarelo mesmo.

  — O cassaco de engenho

  é amarelo sempre:

  — Mas do amarelo inchado

  que é verde levemente.

  — Desse verde amarelo

  em que o azul não entra

  e que não fosse nele

  se diria doença.

  — Um verde especial,

  espécie de auriverde,

  só dele, branco ou negro,

  de receita só dele.

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  — O cassaco de engenho

  quando está dormindo:

  — Se vê que é incapaz

  de sonhos privativos.

  — Nele não há esse ar

  distante ou distraído

  de quem detrás das pálpebras

  um filme está assistindo.

  — Detrás de suas pálpebras

  haverá apenas treva

  e de certo nenhum

  sonho ali se projeta.

  — O cassaco de engenho

  dorme em sala deserta:

  — A nenhum sonho-filme

  assiste, nem tem tela.

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  — O cassaco de engenho

  quando não está dormindo:

  — É como se seu sono

  ainda o encharcasse, limo.

  — Quando não está dormindo

  não é que está acordado,

  é apenas que caminha

  onde o sono é mais raso.

  — Não tem como evitar

  que o marasmo o embeba

  e o impeça de subir

  à consciência seca.

  — O cassaco de engenho

  nunca acorda de todo:

  — Anda sempre nos pântanos

  do sono, por seu lodo.

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  — O cassaco de engenho

  quando no trabalho:

  — Tudo com que trabalha

  lhe parece pesado.

  — É como se seu sangue,

  que entretanto é mais ralo,

  lhe pesasse no corpo,

  espesso como caldo.

  — Como o caldo de cana

  já muito cozinhado

  e que vai-se espessando

  no gesto do melaço.

  — O cassaco de engenho

  tem o ritmo pesado:

  — O do gesto do mel

  deixando o último tacho.

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  — O cassaco de engenho

  quando não trabalha:

  — As coisas continuam

  sendo-lhe bem pesadas.

  — Por sua pouca roupa

  está sempre esmagado

  e pesa-lhe no pé

  inexistente sapato.

  — Pesa-lhe a mão que leva

  e se não leva nada,

  e pesa-lhe igualmente

  se se move ou parada.

  — Ao cassaco de engenho

  pesa o ar que respira:

  — E até mesmo lhe pesa

  o chão sobre que pisa.

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  — O cassaco de engenho

  faz amarelamente

  toda coisa que toca

  tocando-a, simplesmente.

  — É o contrário do barro

  das casas-de-purgar

  que se bota no açúcar

  a fim de o branquear.

  — O cassaco de engenho

  purga tudo ao contrário:

  — Como o barro, se infiltra,

  mas deixa tudo barro.

  — Limpa tudo do limpo

  e deixa em tudo nódoa:

  — A que há em sua camisa,

  em sua vida, no que toca.

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  — O cassaco de engenho

  vai amarelamente

  entre todo esse azul

  que é Pernambuco sempre.

  — Mesmo contra o amarelo

  da palha canavial,

  ainda é mais amarelo

  o seu, porque moral.

  — O cassaco de engenho

  é o amarelo tipo:

  — É amarelo de corpo

  e de estado de espírito.

  — De onde a calma que às vezes

  parece sabedoria:

  — Mas não é calma, nada,

  é o nada, é calmaria.

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  — O cassaco de engenho

  é amarelamente

  mesmo no mundo em cor

  que bebe na aguardente.

  — Primeiro, a aguardente

  lhe dá um certo azul

  e esquecido o amarelo,

  ele quer ir-se ao Sul.

  — Ao cassaco de engenho

  depois o azul é roxo:

  — Já em vez de ir-se ao Sul

  deseja é ir-se morto.

  — Por fim, inevitável,

  volta a vida amarela:

  — No amargor amarelo

  da ressaca que o espera.

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  — O cassaco de engenho

  vê amarelamente

  todo o rosa-Brasil

  que ele habita e não sente.

  — Para ele, a água do rio

  não é azul mas barro,

  e as nuvens, aniagem,

  pardas, de pano saco.

  — Ao cassaco de engenho

  nunca a terra é de vargem:

  — E o di
a mostra sempre

  desbotada folhagem.

  — E outra é a morte que vem

  retratar seu trespasse:

  — Não usa pano preto,

  cobre-se, sim, de cáqui.

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  — O cassaco de engenho

  quando doente-com-febre:

  — Não de febre amarela

  mas da de sezões, verde.

  — Por fora, se se toca

  no seu corpo de gente:

  — Se pensa que a caldeira

  dele afinal se acende.

  — Contudo se se toca

  esse corpo por dentro:

  — Se vê que, se é caldeira,

  nem tem assentamento.

  — Que se é engenho, é

  de fogo frio ou morto:

  — Engenho que não mói,

  que só fornece aos outros.

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  — O cassaco de engenho

  quando vai morrendo:

  — Então seu amarelo

  se ilumina por dentro.

  — Adquire a transparência

  própria ao cristal anêmico:

  — Aquela de que a cera

  dá o melhor exemplo.

  — Adquire a transparência

  própria de qualquer vela:

  — Da mesma em cuja ponta

  plantam a chama que o vela.

  — A dele, então, é igual

  à carne dessa vela:

  — E a chama se pergunta

  por que não a acendem nela.

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  — O cassaco de engenho

  quando o carregam, morto:

  — É um caixão vazio

  metido dentro de outro.

  — É morte de vazio

  a que carrega dentro:

  — E como é de vazio,

  ei-lo que não tem dentros.

  — Do caixão alugado

  nem chega a ser miolo:

  — Pois como ele é vazio,

  se muito, será forro.

  — O enterro do cassaco

  é o enterro de um coco:

  — Uns poucos envoltórios

  em volta do centro oco.

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  — O cassaco de engenho

  defunto e já no chão:

  — Para rápido acabá-lo

  tudo faz mutirão.

  — O massapê, piçarra,

  e a Mata faz Sertão.

  — E o sol, para ajudar,

  se é inverno faz verão.

  — Para roer os ossos

  os vermes viram cão:

  — E outra vez vermes, vendo

  o giz que os ossos são.

  — E o vento canavial

  dá também sua demão:

  — Varre-lhe os gases da alma,

  levando-a (lavando), são.

  Party at the Manor House

  (Congressional rhythm; Northeast accent)

  1

  — The sugar mill worker

  in a large or small mill

  — Is the same mill worker

  with a different rhyme.

  — The sugar mill worker

  in a raw mill or refinery:

  — “Sugar mill worker”

  is the crucial denominator.

  — Any sugar mill worker

  from any Pernambuco:

  — When he says “sugar mill worker”

  will have said everything.

  — Whatever his name,

  position or salary:

  — By saying “sugar mill worker,”

  he will have said it all.

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  — The sugar mill worker

  in child form

  — Looks like a cross

  between reed and cane.

  — The child mill worker

  has more of the reed:

  — Is more like his father,

  because he is lean.

  — The sugar mill worker

  in child form

  — Is not only reed,

  he is also cane.

  — But cane that is weak

  from overharvesting:

  — A degenerate breed

  of the fourth or fifth cutting.

  II

  — The sugar mill worker

  in female form

  — Is an empty sack

  that stands on two feet.

  — The female mill worker

  is essentially a sack

  — Of sugar without

  any sugar inside.

  — The sugar mill worker

  in female form

  — Is a sack that cannot

  conserve or contain.

  — She’s a sack made

  just to be emptied

  — Of other sacks made in her

  nobody knows how.

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  — The sugar mill worker

  in the form of an old man:

  — Only by chance

  does he get that far.

  — The old mill worker

  isn’t old by chance:

  — He’s a young mill worker

  who hurried up his age.

  — The sugar mill worker

  in the form of an old man:

  — Having gotten that far,

  he hurries to become a skeleton.

  — He hurriedly grows lean

  like a mud wall in ruins:

  — His flesh is the mud,

  his skeleton the frame.

  2

  — The sugar mill worker

  looks like us from a distance:

  — Looking closer one sees

  what sets him apart.

  — The sugar mill worker

  up close, to a sharp eye:

  — Is in all respects human

  but at half the price.

  — He is missing nothing

  that you and I have,

  down to every detail,

  like any normal man.

  — He’s the same, yet seems

  to have been cut out

  by the dull scissors

  of a third-rate tailor.

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  — The sugar mill worker

  looks like flesh and blood:

  — Looking closer one sees

  just what substance he is.

  — The mill worker’s body

  when actually touched

  — Proves to be different,

  of a thinner consistence.

  — Its texture is rough

  and at the same time slack,

  like cheap cotton cloth

  or like cotton scraps.

  — Like well-worn cloths

  torn and tattered

  to where, in our language,

  cloths become rags.

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  — The sugar mill worker

  seems to be of our clay:

  — Looking closer one sees

  that his clay was grayer.

  — The sugar mill worker

  is shadowy and dim:

  — He never learns to shine

  like the sugar mill’s steels.

  — He can’t even shine

  like the duller copper

  of the vats he stirs

  in the smaller mills.

  — He never even learns

  to shine like the hoe handles

  he dry polishes daily

  with his sandpaper hand.

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  — The sugar mill worker

  looks white or black:

  — Looking closer one sees

  he is actually yellow.

  — The sugar mill worker

  is always yellow:

  — A swollen yellow,

  slightly green.

  — That yellowish green

  without any blue,

  which in anyone else

  would be called disease.

  — A special green,

  a kind of greenish gold,

  be he black or white,

  a color all his own.
/>
  3

  — The sugar mill worker

  when he is sleeping

  — Is obviously incapable

  of private dreams.

  — He’s missing that faraway

  look of enchantment

  of those who watch films

  behind their eyelids.

  — Behind his eyelids

  there is only a darkness

  where surely no dream

  is being projected.

  — The mill worker sleeps

  in an empty cinema

  — Where there is no film-dream,

  nor even a screen.

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  — The sugar mill worker

  when he’s not sleeping

  — Looks like seaweed,

  as if sleep still drenched him.

  — When he’s not sleeping,

  he isn’t really awake;

  he merely walks

  in a shallower sleep.

  — He cannot escape

  the marasmus that soaks him

  and keeps him from rising

  to a dry consciousness.

  — The sugar mill worker

  is never fully awake:

  — He still walks in the swamps

  of sleep, through their mire.

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  — The sugar mill worker

  when he’s at work:

  — Everything he works with

  feels heavy to him.

  — It’s as if his blood,

  though thinner than ours,

  weighed on his body

  like juice when thick.

  — Like sugarcane juice which,

  after much cooking,

  gets thicker and thicker

  until it’s molasses.

  — The sugar mill worker

  has a heavy rhythm:

  — Like the final molasses

  leaving the final vat.

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  — The sugar mill worker

  when not at work

  — Continues to feel

  that things are quite heavy.

  — He is constantly crushed

  by his scanty clothing,

  and his nonexistent shoes

  weigh heavy on his feet.

  — His hand weighs heavy

  lifting something or nothing,

  and it weighs on him whether

  it’s moving or still.

  — To the sugar mill worker

  his very breath is heavy:

  — And he even feels the weight

  of the ground he walks on.

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  — The sugar mill worker

  yellowishly tinges

  all that he touches

  merely by touching it.

  — He’s the converse of the clay

  in the bleaching chambers

  added to the sugar

  to make it turn white.

  — The sugar mill worker

  bleaches in reverse:

  — He penetrates, like the clay,

  but turns everything dirty.

  — He cleans off the cleanness

  and leaves behind a smudge:

  — The smudge on his shirt,

  on his life, on what he touches.

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  — The sugar mill worker

  yellowishly lives

  among all that blue